MAIO LARANJA: A Urgência da Prevenção ao Abuso Sexual em Crianças Autistas e com Deficiência

Dia 18 de maio é o dia nacional de combate ao abuso e à exploração sexual infantil no Brasil. O Maio Laranja é uma inciativa que visa dar visibilidade a este assunto. É uma campanha de conscientização, e sendo assim, acreditamos que para combater qualquer problema é necessário conhecê-lo. Precisamos discutir, provocar conversas sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes aqui no Brasil, incluindo os mais vulneráveis.

PASTOREANDO FAMÍLIAS ATÍPICAS

Pastor Glauco Ferreira

5/16/20255 min read

Introdução

A campanha Maio Laranja é uma iniciativa nacional de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes. Criada para promover conscientização, prevenção e proteção, ela se tornou um símbolo de luta pela integridade física e emocional da infância e juventude brasileiras. No entanto, dentro desse cenário, há um grupo que requer atenção ainda mais urgente: crianças e adolescentes com deficiência, especialmente autistas.

Estudos apontam que pessoas com deficiência intelectual e do neurodesenvolvimento têm risco significativamente maior de sofrer abuso sexual ao longo da vida. A vulnerabilidade é agravada por dificuldades de comunicação, baixa compreensão de limites corporais, dependência de cuidadores e ausência de educação sexual acessível.

Este artigo busca abordar, sob a luz da campanha Maio Laranja, as especificidades da prevenção do abuso sexual em crianças autistas e com deficiência, e oferecer estratégias práticas de proteção.

Por que autistas e pessoas com deficiência estão mais vulneráveis?

Segundo relatório da OMS, pessoas com deficiência têm de 3 a 4 vezes mais chances de sofrer violência sexual do que pessoas sem deficiência. No caso do autismo, essa vulnerabilidade está associada a diversos fatores:

1. Déficits de comunicação

Muitas crianças autistas são não verbais ou apresentam dificuldades para se expressar. Isso dificulta o relato de situações abusivas ou a compreensão de que estão sendo violadas.

2. Dificuldade com regras sociais

Autistas, em geral, têm maior dificuldade para entender normas sociais complexas, como “pessoas estranhas não devem tocar no seu corpo” ou “nem todo carinho é seguro”.

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3. Confiança excessiva e obediência literal

Autistas muitas vezes seguem regras de maneira literal e têm dificuldade de reconhecer intenções maliciosas. Um agressor pode se aproveitar disso com mais facilidade.

4. Isolamento social

Muitas dessas crianças frequentam menos espaços públicos, têm poucos vínculos sociais e interagem com um número reduzido de adultos, o que facilita o abuso não identificado.

5. Dependência de cuidadores

Quando a criança depende de outras pessoas para higiene, alimentação e transporte, torna-se ainda mais exposta a situações em que há vulnerabilidade corporal.

O que a campanha Maio Laranja propõe?

A campanha Maio Laranja surgiu como um chamado à sociedade para proteger a infância. Ela propõe ações de conscientização, denúncia e prevenção, especialmente nos ambientes escolares, familiares e religiosos.

Contudo, é necessário incluir o recorte da deficiência nas ações da campanha, considerando as múltiplas formas de violência que podem se camuflar em contextos de cuidado.

O que é considerado abuso sexual infantil?

O abuso sexual infantil vai além do ato sexual em si. Ele pode se manifestar de diversas formas, como:

  • Toques inadequados ou forçados no corpo da criança;

  • Exposição da criança a conteúdos sexuais;

  • Tirar ou divulgar fotos íntimas;

  • Obrigar a criança a tocar o corpo de outra pessoa;

  • Ameaçar a criança para manter o segredo.

Em autistas e pessoas com deficiência, o agressor pode se aproveitar da dificuldade da criança em reconhecer essas ações como inadequadas, ou do medo de contar a alguém.

Sinais de que algo pode estar errado

O abuso sexual, especialmente em crianças não verbais, costuma ser descoberto por meio de sinais comportamentais. Esteja atento a:

  • Mudanças abruptas de comportamento ou regressões (voltar a fazer xixi na cama, por exemplo);

  • Isolamento repentino;

  • Recusa em ficar com determinada pessoa;

  • Medo ou aversão a toques;

  • Comportamentos sexuais inadequados para a idade;

  • Falas fragmentadas como “fulano mexeu”, “não gostei”, “dói aqui”.

Como proteger crianças autistas e com deficiência do abuso?

1. Educação sexual acessível

Muitas famílias evitam o tema por medo ou tabu, mas a educação sexual adaptada é um direito e uma ferramenta de proteção. Ensine:

  • O nome correto das partes do corpo (evite apelidos);

  • A diferença entre toque bom e toque ruim;

  • Que ninguém pode tocar nas partes íntimas, salvo em casos de higiene supervisionada;

  • Que segredos que causam medo devem ser contados.

Use recursos visuais, histórias sociais, desenhos e vídeos educativos com linguagem clara e concreta.

2. Criação de rotinas previsíveis

Estabeleça rotinas claras e ambientes seguros. A criança precisa saber onde está, com quem está e o que vai acontecer.

Mantenha diários de comunicação entre escola, terapeutas e responsáveis, criando uma rede de acompanhamento mútuo.

3. Envolvimento de múltiplos adultos confiáveis

Envolver outros adultos de confiança na rotina da criança ajuda a criar pontos de observação e apoio. Quando apenas um adulto detém todo o contato com a criança, o risco de abuso oculto aumenta.

4. Supervisão em momentos de vulnerabilidade

Banhos, trocas de roupa, terapias com contato físico ou condução em veículos devem ser supervisionados ou acontecer com conhecimento de todos os envolvidos.

5. Treinamento de voluntários da igreja e escola bíblica

Ambientes religiosos devem oferecer formação adequada aos seus voluntários sobre o cuidado com crianças autistas e PCD, especialmente no que se refere a:

  • Limites físicos;

  • Respeito à intimidade;

  • Escuta ativa;

  • Identificação de sinais de abuso.

O papel da igreja na prevenção

A igreja é, muitas vezes, o único espaço comunitário frequentado por algumas famílias. Por isso, ela precisa assumir um papel profético e protetivo, garantindo:

  • Que todas as crianças sejam vistas, ouvidas e respeitadas;

  • Que pais e mães de autistas se sintam acolhidos e orientados;

  • Que nenhuma atitude abusiva seja tolerada, mesmo sob pretexto de cuidado ou “discipulado”.

Promover campanhas como o Maio Laranja dentro da igreja é um passo poderoso para formar uma comunidade segura, informada e compassiva.

Conclusão

A prevenção do abuso sexual de crianças e adolescentes autistas e com deficiência exige ação intencional, educação acessível e compromisso coletivo. No mês de maio, quando a campanha Maio Laranja ganha força, que a igreja, a família e a sociedade como um todo se unam para proteger aqueles que mais precisam.

Nenhuma criança deveria sofrer em silêncio. E toda criança deve saber: o corpo é seu, e ele merece ser respeitado.